Em quase dois anos, foram abertos 265 novos mercados para produtos agropecuários brasileiros, um recorde histórico
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou do primeiro dia da 9ª edição do CNMA – Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, reconhecendo a importância das mulheres no setor agropecuário brasileiro e sua participação para o sucesso da atividade.
“O Brasil é uma potência agrícola, com grandes ativos que o tornam um dos principais produtores de alimentos do mundo. Esses ativos vão muito além da fertilidade natural do solo, abrangendo pessoas, tecnologias e um clima favorável que permite a colheita de duas safras no mesmo ano”, afirmou Fávaro.
Durante sua apresentação no CNMA, o ministro destacou o papel dos homens e mulheres que, vocacionados para trabalhar com a terra, aproveitam todo o potencial do País, em parceria com tecnologias inovadoras e empresas que acreditam no agro brasileiro.
Um dos exemplos dados foi a descoberta da Embrapa sobre a possibilidade de transformar solos improdutivos em áreas altamente férteis, simplesmente britando pedras de calcário e corrigindo a acidez do solo. Essa inovação permitiu a produção em áreas antes consideradas inviáveis, revelando a capacidade do Brasil de superar desafios e transformar terras aparentemente pouco produtivas em oportunidades de crescimento.
O papel do clima como o maior ativo brasileiro também foi ressaltado pelo ministro. Para ele, essa característica é fundamental para permitir que o País produza duas safras no mesmo hectare ao longo do ano. “Esse fator, aliado ao compromisso dos produtores brasileiros com a responsabilidade ambiental, permite ao Brasil acessar os mercados mais exigentes do mundo. Hoje, mais de 98% dos produtores brasileiros já atuam com práticas ambientalmente responsáveis, garantindo a sustentabilidade da produção”.
Com um dos sistemas de defesa agropecuária mais fortes e eficientes do mundo, a sanidade brasileira, segundo Fávaro, garante a qualidade dos produtos nacionais com preços competitivos. Um exemplo citado pelo ministro é a ausência de casos de gripe aviária em plantas comerciais brasileiras, mesmo com o vírus circulando globalmente há mais de 15 anos. Essa eficiência, fruto do trabalho conectado entre produtores, integradores e o sistema público, permite ao Brasil manter sua liderança mundial na produção de carne de frango, fornecendo 40% dessa proteína consumida no mundo.
Com o compromisso de continuar sendo protagonista no cenário global, o Brasil tem investido fortemente na recuperação de pastagens degradadas. Atualmente, há 90 milhões de hectares de pastagens em estado de degradação no País, sendo 40 milhões com alto potencial de recuperação. O Programa Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas, lançado pelo governo federal, oferece linhas de crédito com juros baixos, dois anos de carência e 10 anos para pagamento. Em 2023, foram destinados R$ 7 bilhões para o Plano Safra e mais R$ 7 bilhões este ano. Em janeiro, a captação de recursos internacionais somou US$ 1,350 bilhões, com juros ainda mais baixos, de 6,5% ao ano. Esse esforço já está gerando resultados, com 1,5 milhão de hectares convertidos para a produção em 2024, indicando o rumo de uma agropecuária sustentável e promissora.
Nos últimos meses, o Brasil também tem ampliado suas oportunidades de comercialização. Foram abertos 265 novos mercados para produtos agropecuários brasileiros em pouco mais de 20 meses, um recorde histórico. Entre os mercados abertos recentemente, destacam-se a exportação de carne bovina e suína para o México, algodão para o Egito e penas de ganso para o Oriente Médio.
Ao lado do embaixador Especial da FAO e ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, Fávaro falou do orgulho de suceder ministros que fizeram do agronegócio a “mola propulsora” da economia brasileira, comparando o Brasil a outros países que encontraram suas vocações econômicas após a Segunda Guerra Mundial, como a Coreia do Sul, Japão e Oriente Médio. “O Brasil descobriu sua vocação como grande produtor de alimentos, graças a iniciativas como a criação da Embrapa, há 50 anos, o que transformou o País de importador a um dos maiores exportadores de alimentos do mundo”.
Na ocasião, Roberto Rodrigues acrescentou que o Brasil tem condições de alimentar o mundo e ser líder mundial em segurança ambiental, pontuando a importância da transição energética para uma matriz renovável e positiva, cuidando do clima e gerando empregos. “Podemos ser campeões mundiais da segurança ambiental e, consequentemente, da paz”, ressaltou o ministro. “Não há paz quando há fome”, disse, destacando que o País tem potencial para ser autossuficiente e exportar alimentos para outros países.
Em sabatina com a imprensa presente no evento, o ministro criticou a forma como o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem aplicado o Código Florestal. Segundo ele, o CMN foi mais rigoroso do que a própria lei ao impedir que propriedades com irregularidades ambientais acessem créditos oficiais, mesmo que apenas parte da propriedade esteja em desconformidade. Para Fávaro, isso prejudica produtores que querem se regularizar, mas são impedidos pela ineficiência do Estado em aprovar os Cadastros Ambientais Rurais (CARs).
“Estamos há 12 anos com o CAR em vigor e apenas 1,7% dos cadastros foram aprovados”, afirmou o ministro, criticando a inoperância dos órgãos públicos. Ele ressaltou que muitos produtores já corrigiram excessos de desmatamento, mas ainda aguardam a aprovação do CAR. Fávaro se comprometeu a trabalhar para uma alteração na resolução, garantindo o acesso ao crédito sem promover crimes ambientais. “O Estado não pode punir o cidadão pela sua própria inoperância”, concluiu.
Sustentabilidade como chave para novos mercados
Fávaro também destacou que o Brasil tem potencial para aumentar sua produção agropecuária de forma sustentável, tendo sido este um diferencial que possibilitou a abertura de muitos dos 265 novos mercados. Ele mencionou os avanços nas exportações de algodão, setor que, segundo o ministro, está estagnado globalmente há 20 anos, mas no qual o Brasil se tornou o maior exportador mundial em 2023.
“Em pouco mais de 20 meses conseguimos abrir o mercado do algodão para o Egito, considerado o país produtor do melhor algodão do mundo. Ele importa do Brasil e, com isso, passamos então a ter a mesma equivalência em qualidade do nosso produto. Ontem (22/10) abrimos também o mercado de algodão, caroço e toda a fibra do algodão para a Arábia Saudita. O que diferencia o algodão brasileiro é que mais de 90% da produção tem rastreabilidade, da semente ao guarda-roupa, o que atrai consumidores ao redor do mundo”, explicou Fávaro. Para o ministro, a produção sustentável é o caminho para conquistar mercados mais exigentes e com maior poder aquisitivo.
Questionado sobre a recente sanção da lei estadual nº 2256/2023 de Mato Grosso que retira incentivos fiscais à moratória da soja, Fávaro afirmou que a medida é uma resposta legítima à insatisfação dos produtores. A moratória, um pacto entre ONGs e indústrias, impede a compra de produtos provenientes de áreas desmatadas, mesmo que o desmatamento seja legal. “Se as empresas preferem agir dessa forma é porque elas não querem cumprir a lei. Neste caso não há razão para continuarem a receber incentivos fiscais”, defendeu o ministro, parabenizando a Assembleia Legislativa de Mato Grosso pela iniciativa e acreditando que a ação incentivará uma nova rodada de diálogos entre os entes que formaram a moratória da soja, chegando a uma conclusão que não puna os produtores que estão agindo dentro da lei.
O ministro reconheceu que existem preocupações com a COP 30 e a imagem do agro brasileiro, com críticas focadas em queimadas e desmatamento, em vez de suas virtudes. No entanto, o ministro vê a conferência como uma chance de o Brasil demonstrar sua sustentabilidade e boas práticas agrícolas ao mundo. “A criminalização dos nossos produtores no exterior é uma tentativa de criar barreiras comerciais. Nosso desafio é mostrar ao mundo que o agro brasileiro é sustentável e competitivo. Ninguém no mundo produz tanto com garantia de qualidade sanitária e preços acessíveis no combate à inflação”. Segundo Fávaro, “a forma como o mundo encontra para atrapalhar os produtores brasileiros é a alcunha de que não são sustentáveis e não possuem boas práticas. O desafio é mostrarmos como atuamos por meio da rastreabilidade e demonstrações concretas das boas práticas brasileiras. Vejo que, para muitos, a COP pode ser um temor; para nós, no entanto, entendo como uma oportunidade de demonstrar o nosso compromisso para o mundo”.
Por fim, Fávaro comentou sobre a recente carta enviada à União Europeia em reunião bilateral, na qual pede ao bloco a suspensão da Lei Antidesmatamento e a revisão da abordagem punitiva aos produtores que cumprem a legislação vigente. “O principal efeito do documento não era o adiamento, porém, se a medida tivesse sido implementada, o Brasil teria acionado a Organização Mundial do Comércio (OMC). A União Europeia não tem o direito unilateral de impor regras a outros países. O adiamento foi um gesto de bom senso e abre caminho para o diálogo. Nós não queremos, de forma alguma, precarizar o meio ambiente, mas, fazendo com responsabilidade, o Brasil vai cumprir seu papel sempre”, finalizou.